quinta-feira, 13 de setembro de 2012

POESIA

PROTESTO CONTRA EXCESSO DE APARIÇÃO

Essa coisa de aparecer todo tempo
roubar a cena no palco, no trabalho, nas situações
Essa coisa mesquinha
de estar sempre em evidência nos holofotes das recomendações
...
de puxar o tapete do outro
de roubar-lhe o mérito
ou mesmo criar mil artifícios
para supervalorizar a grandeza dos seus próprios feitos

Essa coisa de parecer
sem uma essência mínima de ser
nada acrescenta
nada diminui
ao que cada um na verdade é.

Aquilo que se é
se impõe, vem à tona, aparece na realidade
sem mais, sem menos se esperar.
É verdade que se faz preciso
aqui acolá tomar as rédeas da situação
para que não se dê a César o que é de Deus
nem pareça verdade toda mentira maquiada.
Ah, se todo falso profeta
se todo falso artista
se todo falso benfeitor, “pai dos pobres”, político, amigo, poeta ou pateta
soubessem que sua ação é auto-referencial
eles mesmos não chamariam os fotógrafos,
os repórteres, os jornais, as rádios da região
porque, na verdade, toda falsa atitude
é verdadeira condenação!

É preciso reconhecimento, claro!
É preciso mostrar a verdade que é verdadeira!
Mas cada um que se adianta
cada um que ensaia um passo
cada um que permanece ativo nos bastidores
precisa amar o fazer por si só
e os frutos coletivos que esse fazer trará.

Não é digno emperrar o desenrolar das coisas
só para priorizar seu nome, sua marca, sua própria exaltação.
Chega dessa estória de ser preciso parecer aquilo que já se é!
Abaixo os deuses de si mesmos feitos!
Abaixo a ideologia da aparição!

(Romário Gomes)

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